aqui estou eu, no mesmo lugar de ontem, de anteontem e da semana passada, sentado numa cadeira desconfortável em frente ao computador, na luta para não me distrair e cumprir de uma vez por todas com minhas obrigações, que por hora constitui confeccionar dois trabalhos para o mestrado. em um deles já labuto por mais de dez dias, podem acreditar. apesar disso não esperem um texto brilhante, publicável, longe disso, apenas algo entregável. acho estranho ficar dez dias fazendo um único trabalho de disciplina quando penso na graduação, quando esse tempo seria suficiente para fazer dez deles, pelo menos. naquele tempo, a madrugada que antecedia a entrega era sempre produtiva, quando eu produzia uns três trabalhos, ao mesmo tempo que conversava com os amigos igualmente desesperados pelo msn e comia as guloseimas especialmente compradas para a derradeira noite. coisas como biscoito recheado, quase sempre passatempo, o meu preferido, chocolates, balas, refrigerante e café, o bom e velho amigos dos universitários desesperados, mas não só desses. bom, pelo menos me lembrando disso posso saber de onde vem a protuberância de uma coisa que um dia pude chamar abdômen.
o fato é que estou aqui, no mesmo lugar, conversando com uma amiga no msn, longe de acabar um dos trabalhos - aquele que está na iminência de ficar pronto há dez dias - e sem guloseimas ao meu lado, não por falta de vontade, mas por pura preguiça ao longo do dia de ir no mercadinho da esquina comprar uma coisa qualquer. amanhã ainda tenho uma prova pra fazer, de uma graduação que eu não deveria ter começado, mas da qual não me arrependo. se estudei pra prova? claro que não!, prova da graduação, esquema da graduação - estudar só instantes antes do momento fatídico. mas pelo menos na época em que eu era genuinamente um estudante de graduação eu ia às aulas, o que me deixava mais confortável ao fazer as provas. enfim.
tudo isso para dizer que estou me sentindo um pouco velho e cansado dessa rotina. apesar de ter a semana toda em casa para fazer os trabalhos, com exceção de amanhã, fico planejando o que farei no fim de semana assim como um cara que trabalha no escritório. e o pior: o meu planejamento é como o de um cara que trabalha no escritório e que tem, no mínimo, meio século de vida. o plano? alugar dois filmes na locadora. quais? o leitor e má educação. pois é, ainda não assisti nenhum deles e mal posso esperar o fim de semana pra isso. companhia? a minha, é claro. não por opção, não por falta de opção, entende?
o irônico nessa história toda é que posso até assistir os filmes, mas certamente meu fim de semana será intensamente dedicado ao trabalho, pelo menos assim eu espero. essa história se torna ainda mais irônica quando eu penso que um dos motivos que me deixava feliz quando pensava na minha profissão era saber que teria horários alternativos, não precisando bater cartão como um cara de escritório. pior ainda, o escritório é meu quarto, de onde não saio o dia inteiro, rara exceções com idas à cozinha e ao banheiro. pelo menos no escritório tem uma secretária gostosona pra animar a galera do escritório e companhia pro café. acho que preciso de um emprego. um emprego no escritório. talvez eu só esteja com sono. melhor ir dormir.