Deixe pra mais tarde

Atenção!!! Prezados algum dos sete leitores, se você acabou de almoçar, jantar, fazer um lanchinho ou ingerir qualquer tipo de alimento não leia esse post agora. Volte mais tarde, antes da nova refeição. Não me responsabilizo por aqueles que não respeitarem o aviso.

Quando a gente quer estudar todo mundo liga. No caso dela, as ligações são quando quero, ou não, estudar. Quase que diariamente falo com M.R.. Hoje não foi diferente. Pela terceira vez (eu acho) o telefone toca e, mesmo sem assunto, conversamos por um bom tempo. Começo com a reclamação recorrente:

- Tenho que estudar. Tá foda. Esse tempo...

- Eu também.

(e M.R. emenda outro assunto. ela não se preocupa com o desencadeamento lógico do bate-papo. tudo bem.)

- Comi muito. Tenho que parar de comer tanto assim. To ficando gorda...

(ela não está nem próximo disso...)

- Hummm

(não adianta falar que não está... definitivamente não adianta. coisa de mulher mesmo... fica a dica.)

Em meio a amenidades e a eterna reclamação da falta de dinheiro começamos a ter delírios febris idealizando o dia em que o dinheiro, ou melhor, a sua falta, não será um problema. Começo o delírio:

- Queria ter grana pra fazer aquela viagem no final do ano.

- Só? Que isso! Se é pra sonhar vamos sonhar direito! Queria estar num barco e blá blá blá...

- Hummm... Só queria viajar mesmo...

(deixe-me explicar: não é só viajar... é fazer aqueeela viagem.)

- Pára com esse sonho medíocre!!! Quando herdar as empresas da sua família tudo ficará melhor.

(e agora a febre dela ultrapassou os 42 graus. e continua:)

- E eu vou trabalhar na área jurídica das suas empresas.

(pausa na conversa. começo com risadas tímidas. ela reflete e prossegue)

- Se bem que eu terei que contratar muitos estagiários inteligentes, né... Já que eu...

(as risadas já não são mais tão tímidas. M.R. se aproveita enquanto não posso falar e emenda voltando pra outro assunto)

- Ler com a barriga cheia faz mal, né?

- Hã?

- Isso. Ler com a barriga cheia faz mal.

(ela repete e continua se explicando enquanto as minhas risadas ultrapassam os decibéis permitidos pra este horário)

- Eu sei que esse papo de que a pessoa tomar banho depois que come é lenda.

(minha barriga começa a doer com a reflexão - ingênua, vale frisar - de M.R.. Não satisfeita, ela se explica ainda mais)

- Imagina só, M.. As pessoas no centro da cidade, depois do almoço. Cai uma chuva de verão, um temporal mesmo. Cai todo mundo duro no chão? Claro que não! Então esse papo é lenda!!! Já a história de ler com a barriga cheia eu não sei...

(não consigo falar nada. minha risada a incomoda e ela continua se justificando...)

- Pow! Você acha que uma chuva não equivale a um banho? Essas chuvas de verão são fortes! Equivale a um banho, ué!

E o que eu posso dizer depois disso tudo? Depois de todo esse divertimento num sábado chuvoso onde minha companhia é a pilha de livros acumulados que crescem em P.G., enquanto eu os leio em P.A.? (isso Darwin não previu, não é)

- Claro, M.R., você tem razão! Agora deixe-me ir. Tchau.

- Tchau, M.. Nos falamos mais tarde!

(Sim, haverá uma quarta vez).