A cura

Os amigos lhe receitaram alguns remédios para curar as dores, mas sabe como é, ele não era dos mais adepto desse tipo de drogas. Quando soube da doença que abatia seu amigo, ou quase filho, como ela costuma dizer por aí, a vizinha apressou-se em preparar algo para tirá-lo da cama. Ela cuidava dele com muita ternura e no fim da tarde levou-lhe um chá que prometia ressuscitá-lo imediatamente após aqueles quase dois litros de líquido verde aprisionados em uma garrafa pet fossem ingeridos.

- Toma, meu filho. É só beber uma xícara de hora em hora e amanhã não restará sequer pó dos últimos dias.

Ele, não sem esforço, ensaiou um sorriso e pensou no seu fim após beber todo aquele chá -não restaria pó, nem estômago nem algo do que um dia pode ser conhecido por aparelho digestivo.

Sem respirar e obstruindo o nariz com os dedos (bendito polegar oposto!) tomou o "chá" de uma só vez. No fim sacudiu a cabeça e emitiu algo que parecia ser um grito de alívio e pensou em como pode ser bom cumprir com as tarefas dolorosas. Será que gritaria assim quando essa dor passasse?

Sim, ele tomou pelo menos 200 ml daquele líquido verde. Sim, não teve como fugir de sua impiedosa vizinha, que o obrigou a tomar a primeira xícara na sua frente. Do contrário...

- Só saio daqui depois que você beber tudinho!

- Tudinho quanto?

- Tudinho tudo!

Ele pensou bem e de uma só vez virou aquela xícara, não sem antes prender a respiração e...

Não é que não gostasse da vizinha, pelo contrário, ela sempre fora muito gentil e prestativa. Algumas vezes até agradável, pode-se arriscar a dizer. Ele adorava receber suas guloseimas e ler seu jornal. Gostava também da sua companhia (quase sempre) e do seu papo mole. Encontrava nela o carinho da mãe que ficou longe, ao mesmo tempo em que ela treinava com ele os cuidados que teria com o filho que estava pra chegar. Mas no momento ele era o filho de quem ela poderia cuidar e proteger, sua melhor possibilidade.